Testemunhando a Alegria

 

 

 
Testemunhando a Alegria

Introdução:

 

Nós conhecemos a história de Neemias, o copeiro de Artaxerxes, rei da Pérsia. Sabemos que depois de ouvir a situação do seu povo, pediu permissão ao rei para retornar a Jerusalém para ajudar o seu povo. As muralhas de Jerusalém haviam sido destruídas e o povo estava à mercê dos inimigos. O rei permitiu e Neemias retornou temporariamente para cumprir sua missão. Em dois meses os muros estavam reedificados apesar dos problemas e da violenta oposição dos inimigos. Isso significava uma grande vitória.

Depois de completaram a construção das muralhas, Esdras, o escriba, juntou o povo na Porta das Águas e começou a ler as escrituras para eles. Começou a ler os livros da lei. Esdras estava em pé numa plataforma alta para que todos pudessem vê-lo e ouvi-lo. Os levitas ajudavam o povo a entender o significado do que estava sendo lido.

Quando ouviram a palavra de Deus, eles se inclinaram e começaram a adorar ao Senhor. Mas algo mais aconteceu: ao ouvir as ordenanças da palavra de Deus, eles perceberam como era diferente da maneira como estavam vivendo, e ficaram muito tristes.

Esdras, vendo sua tristeza e arrependimento disse ao povo: “Esse dia é consagrado para o Senhor vosso Deus, pelo que não vos lamenteis, nem choreis (...) não vos entristeçais, porque a alegria do Senhor é a vossa força”.

Nós temos a tendência de confundir sagrado com solene e sombrio. Às vezes pensamos que ser santo é ser quieto e sério, mas a bíblia parece assemelhar santidade com alegria.

O verdadeiro louvor a Deus acontece com alegria e celebração. Deus não se alegra com a tristeza. Ele se alegra com a nossa alegria. A alegria do Senhor é a nossa força.

Esse texto nos mostra algumas razões pelas quais a alegria do Senhor á a nossa força. Quero enfatizar três dessas razões:

 

1. A alegria genuína é resultado de sabermos quem somos e de quem nós somos:

O que os israelitas descobriram enquanto ouviam as palavras do livro da lei? Certamente ouviram essas palavras: “Porque eu sou o Senhor, que vos faço subir da terra do Egito, para que eu seja vosso Deus, e para que sejais santos; porque eu sou santo” (Levítico 11.45).

Ouviram como Deus os havia escolhido. Como Deus os havia amado e os havia livrado da escravidão. Ouviram como Deus lhes deu a terra prometida. Ouviram a respeito do propósito de Deus para eles como seu povo. Começaram a entender que não era apenas um grupo de indivíduos. Era o povo de Deus. Aprenderam também que tinham uma responsabilidade. A responsabilidade de ser como ele. Aprenderam que, porque era o povo de Deus, deveriam prestar contas de seus atos a ele. Aprenderam que devia viver vida santa. Esses fatos tinham implicações muito sérias. Mas também davam a eles um sentido de identidade e de pertença. Aprenderam que haviam sido criado para um propósito e que suas vidas tinha um destino. Não é isso que precisamos ter hoje também? Senso de identidade, de pertença, de propósito, de destino.

Isso gera responsabilidade em nós, mas gera também alegria. Essa alegria cria um profundo desejo de amar e adorar a Deus. Foi assim no livro de apocalipse quando o céu explodiu em louvor dizendo: “Tu és digno, Senhor, de receber glória, e honra, e poder, porque tu criaste todas as coisas, e por tua vontade são e foram criadas” (4.11).

Que melhor senso de identidade nós podemos ter? Que alegria maior do que entender que nossa vida está conectada com a eternidade?

 

2. A alegria genuína é resultado de descobrirmos a vontade de Deus em sua palavra:

Existe um antigo costume judeu que, quando um menino começa suas primeiras lições na Lei de Moisés (a Tora), uma gota de mel é derramada na primeira pagina da Tora para lembrá-lo da doçura da palavra de Deus. Essa era a compreensão daquele povo. A palavra era doce para eles, mesmo que trouxesse convicção de pecados.

Veja os versos 13 e 18: “E, no dia seguinte, ajuntaram-se os cabeças dos pais de todo o povo, os sacerdotes e os levitas, a Esdras, o escriba, e isso para atentarem nas palavras de lei (...) E, de dia em dia, ele lia o livro da Lei de Deus, desde o primeiro dia até ao derradeiro...”

A alegria genuína é encontrada quando começamos a olhar para a Palavra de Deus e descobrimos quem Deus é, quem nós somos, e qual a vontade dele para a nossa vida. Isso nos dá um alvo e um padrão de comportamento. Sabemos o que Deus espera de nós e podemos crescer na direção de um caráter transformado à semelhança de Deus em Cristo.

A alegria genuína acontece quando podemos dizer como o salmista: “Tua palavra é lâmpada para os meus pés e luz para os meus caminhos. Maravilhosos são os teus testemunhos; por isso a minha alma os guarda. A exposição das tuas palavras dá luz e dá entendimento aos símplices” (Salmo 119.105; 129 e 130).

Conta a história de que um motorista percebeu que estava na estrada errada. Parou perto de uma venda na estrada e disse a uma senhora “A senhora pode me ajudar? Eu estou perdido!” A mulher olhou para ele com compaixão e perguntou: “O senhor sabe de onde está vindo?” Ele respondeu: “claro minha senhora”. Ela continuou: “O senhor sabe onde deseja ir?” Ele respondeu indignado: “Mas que pergunta; sem dúvida que sei”. A mulher chegou bem pertinho dele e disse: “Bem, então o senhor não está perdido. O senhor só precisa de um pouco de orientação porque não prestou atenção nos sinais”.

Às vezes também ficamos desorientados. Não existem atalhos. Nossa bússola é a palavra de Deus. Sabemos de onde viemos e pra onde estamos indo. Precisamos continuar olhando para os sinais que nos orientam.

A alegria genuína é conseqüência de encontrarmos a vontade de Deus e os caminhos de Deus na palavra de Deus.

 

3. A alegria genuína é resultado do arrependimento e da descoberta da graça:

O chamado à alegria vem depois do arrependimento. Nunca antes.

Depois que os israelitas ouviram a leitura da palavra e entenderam que haviam entristecido o coração de Deus, puseram o rosto em terra como sinal de arrependimento. Não tentaram se desculpar. O autor de Hebreus diz que “não há criatura alguma encoberta diante dele; antes, todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos daquele com quem temos de tratar” 4.12-13.

Enquanto Esdras lia a palavra, o povo diante dele chorava. Sua desobediência estava sendo exposta. Elas entendiam suas faltas em não guardar a lei de Deus. Não choravam porque haviam sido pegos em flagrante. Choravam porque haviam entristecido o coração de Deus. Choravam porque estavam arrependidos. Vejam 9.3: “... leram no livro da Lei do Senhor, seu Deus, uma quarta parte do dia, e, na outra quarta parte, fizeram confissão; e adoraram o Senhor, seu Deus”.

Arrependimento real havia trazido mudança real em suas vidas. Se tivessem tentado negar suas faltas a alegria nunca teria acontecido. Se não tivessem sido honestos sobre seus pecados nunca teriam experimentado a alegria. Quando o arrependimento chega, a alegria chega também. Alegria genuína acontece com a confrontação do pecado.

Entretanto, quando confrontamos nossos pecados, face a face com Deus, o milagre que experimentamos é o milagre da graça. Ao invés de nos destruir, ele nos dá vida. Ao invés de nos condenar ele nos oferece perdão. Essa é uma experiência de profunda alegria.

O Salmo 30.5 afirma que: “sua ira dura só um momento; no seu favor está a vida; o choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã”.

A alegria é resultado do amor e do perdão de Deus. A alegria é resultado de termos nosso coração em paz com Deus.

Conclusão:

“A alegria do Senhor é a nossa força”. É uma alegria que vem quando entendemos quem somos e a quem pertencemos. É uma alegria que vem quando descobrimos a vontade de Deus para as nossas vidas através de sua palavra. É uma alegria que vem quando experimentamos graça como resultado do arrependimento.

E a força que vem como resultado da alegria nos capacitará a cumprir a vontade de Deus enquanto aqui vivermos. Essa mesma força nos levará em direção da eternidade. Porque “se esperamos em Cristo só para essa vida somos os mais miseráveis dos seres humanos”.

A alegria do Senhor, que é a nossa força, nos levará diante do nosso senhor para ouvirmos: “Muito bem, servo bom e fiel...”.

Ao terminar essa reflexão, lembremo-nos da oração de Ignácio de Loyola: “Ensina-nos bom Senhor, a servir-te como tu mereces (...) ensina-nos a esforçar-nos e não querer qualquer outro prêmio a não ser o prêmio da alegria de fazermos tua vontade”.


 

"Nossa bússola é a palavra de Deus"
 
Autor: Bispo João Carlos Lopes